segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Objetos religiosos na tradição familiar.



Podendo ser considerado banal ou irrelevante para uns, ou representativo e memorialista para outras pessoas, um objeto pode perpassar ou significar determinado momento de uma vida, seja uma lembrança, memória ou até mesmo certa tradição. A carga afetiva que um objeto representa, ultrapassa a barreira de preceitos e conceitos que possam ser acompanhados durante toda uma vida, ou seja, ressignificando os mesmos como a religiosidade por exemplo, os objetos de cunho religioso que são repassados ao longo dos tempos pelas famílias, tendem (atualmente) ter maior caráter afetivo e memorialístico, porém também para as famílias mais tradicionalistas, essas preferem continuar cultuando as premissas religiosas no qual mantêm e preservam estes objetos para que a tradição religiosa familiar seja mantida.

As tradições da religião Católica Apostólica Romana, por exemplo, estão presentes desde o nascimento até a morte do indivíduo, sendo repassadas de geração em geração. Além dessas tradições, são perpassados objetos de cunho religioso, como santos ou terços.

Nesse ensaio temos como objetivo trazer vários desses objetos com o intuito de representar os costumes familiares de guardar artefatos de caráter religioso como forma de lembrar de alguém ou de algum acontecimento.

Mais do que demonstrar o respeito que as famílias possuem por esses objetos, mostramos também o laço afetivo que esse ato de recordação e memória traz.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

 A simbologia sociocultural de Zé Maria Mulher e sua persistência pela Umbanda em Sobral - CE



Esta exposição aborda o fenômeno da visibilidade religiosa no Brasil, mais precisamente na cidade de Sobral-Ceará, direcionada para uma religião que é descendente de matriz africana, e hoje possui maiores traços regionais, apresentando o processo histórico de introdução da Umbanda por meio do Pai de Santo Zé Maria Mulher. Para isso, recorre-se a uma revisão historiográfica que trata sobre a temática, com intenção de esboçar aspectos que ajudem a conhecer a imagem estigmatizada, demonizada e distorcida que essa religião carrega desde a suas origens. Ao estudar a Umbanda em Sobral, percebe-se que a figura do Pai de Santo Zé Maria Mulher se faz presente nas memórias de muitos umbandistas e pesquisadores da religião, oferecendo uma representatividade e resistência de grande importância para a popularidade da religião nessa cidade. A análise das memórias produzidas pelo Pai de Santo foi feita sob a perspectiva da construção do processo de fundação da Umbanda na cidade de Sobral-CE, como veremos adiante.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Primordialmente, traços do senso comum são atrelados a nossa vida e fazemos uso dessa dimensão, mas infelizmente sabemos pouco sobre suas origens, construção e incorporação. Apesar de vários costumes derivados de religiões africanas terem sido incorporados e reproduzidos no Brasil, como o ato de pular sete ondinhas no ano novo e vestir-se de branco, muitas vezes as associações com essas crenças são perdidas e frequentemente apagadas. Assim, é importante analisar o contexto histórico brasileiro de como essas religiões foram inseridas na nossa cultura. Desse modo, observa-se que desde o período colonial brasileiro há persistência de relações diretas entre o poder político e a Religião Católica, sendo essa a religião oficial nessa época. Para que pudessem manter suas referências e heranças culturais, as demais religiões tiveram de ser recriadas e adaptadas ao novo contexto.

Para descrever a memória histórica precisamos atrelar primeiramente a região do Estado: a Umbanda no Ceará. Faz-se necessário tratar um pouco do Catimbó como religião também afro-brasileira. O primeiro esboço do Catimbó durante as origens da colonização foi a Santidade, culto que tinha o cerimonial marcado pelo sincretismo de elementos cristãos (como a Igreja, a adoração a uma imagem, o rosário, as cruzes, a procissão, dentre outros) e elementos indígenas (culto aos caboclos). Assim, a Umbanda no Ceará guarda relações fortes com o Catimbó, que descende da Pajelança dos índios. A ele se associam os elementos do costume negro. Assim, quanto às religiões afro-brasileiras aqui no Ceará, antes do que se denominou Espiritismo de Umbanda, segundo informações dos adeptos, havia as práticas denominadas Catimbó, que receberão depois a denominação de Macumba. Na Macumba, é perceptível a incidência de uma influência africana; no entanto, há o processo mutante em direção à Umbanda. O primeiro passo da mutação em direção à Umbanda ocorreu em 1954, quando da criação da Federação Cearense de Umbanda, por Mãe Júlia.

O Espiritismo de Umbanda predominou essencialmente nas periferias dos grandes centros urbanos, tendo como adeptos as populações pobres. Absorveu no seu panteão práticas religiosas da Macumba, embora tenha tentado uma ruptura com as práticas que lhe deram origem ao apostar em modificações no terreno das representações e crenças. Em pouco tempo espalha-se pelo Brasil e chega a Sobral, onde exerce grande influência na formação cultural do nosso povo em um processo sincrético que se desenvolve em meio à hegemonia do catolicismo. Herdamos traços do Catolicismo, do Espiritismo e do Candomblé, mas foi gerada em nós “um rosto próprio”, uma identidade. Não se sabe exatamente quantos Terreiros de Umbanda existem em nossa cidade, mas, sabe-se que o número de Casas de Umbanda é bem maior do que se possa imaginar.

Dentro da Microrregião Norte do Ceará, Sobral é, dessa forma, a cidade de destaque e objeto desta pesquisa, a cidade, localizada na Zona Noroeste do estado. Ao se delimitar um território, podemos assim iniciar análises esse aquele local, e conseguimos perceber na população os reflexos do sentimento de pertencimento, além de identificarmos características próprias desse território e diferenciações sobre outros. Essas características são geradas por meio da construção de um discurso que estabelece uma identidade coletiva. Freitas (2005) direciona seu olhar para a construção da identidade sobralense a partir da elite do município e a sua elaboração discursiva que tem a pretensão de caracterizar e representar o que seria cada cidadão sobralense. O antropólogo Gleidson Vieira dos Santos, em seu trabalho A Pomba-Gira no imaginário das prostitutas, realizado na cidade de Sobral, traz em sua escrita etnográfica a transcrição de uma entrevista realizada com Zé Maria Mulher. Santos (2006) indica a necessidade da “cristalização de informações que até hoje permanecem na oralidade”. Após percebemos a força do discurso sobre a “sobralidade triunfante” (FREITAS), o registro das memórias daqueles que não aparecem neste discurso pode nos levar a imaginar a História de Sobral a partir de novas perspectivas. Percebe-se que existe uma forte presença da Umbanda em Sobral, porém, a presença do discurso triunfante no município e a sua forte relação com a Igreja Católica escondem de certa forma presença desta religião em nosso território. Porém, percebe-se a necessidade de desconstruir o falso imaginário de uma Sobral unicamente católica, pois a partir dessa perspectiva é que se fundamenta o preconceito religioso sofrido e observado nos terreiros de Umbanda.

Aos cinco anos, Zé Maria relata que sua mãe, convencida pela prima, o levou em uma sessão com uma “macumbeira”, expressão utilizada pelo pai de santo, em Camocim. Ao iniciar a sessão, a “entidade”, não identificada na entrevista, relata que não havia nenhuma doença na vida do menino, mas que a criança nascera com a mediunidade de incorporação, opondo-se em fazer qualquer trabalho contra isso, indicando apenas alguns banhos que a criança deveria tomar. Estes banhos, segundo Zé Maria Mulher, ajudaram-no por dois anos, pois quando ele completou a idade de sete anos, sua mediunidade retornou com características mais fortes. A partir desta idade, Zé Maria Mulher relata que iniciou seus trabalhos mediúnicos e, às vezes, utilizava do dinheiro da mãe para a compra de velas. Ele continua relatando que também conseguia dinheiro atendendo espiritualmente algumas pessoas, logo ficando muito conhecido. A relação com sua mãe se agravou quando ele completou dez anos, pois começou a ser perseguido pela Igreja e pela polícia de sua cidade, Massapê. Aos onze anos, sua mãe não aguentando a perseguição que estavam sofrendo, mandou o filho ir embora. Depois de ser rejeitado duas vezes por suas irmãs Teresinha e Nilza, já que elas não aceitavam sua religião, Zé Maria Mulher buscou uma residência na cidade de Sobral, onde se instalou e iniciou seu atendimento espiritual. O Pai de Santo afirma que ao chegar em Sobral, com catorze anos, começou a procurar casa para alugar, localizando uma na “Rua do Meio” (Bairro do Alto do Cristo), onde começou a trabalhar atendendo clientes e soltando baralho. Depois da morte de sua mãe, aos dezesseis anos, Zé Maria Mulher, já havendo deixado seu antigo endereço, registrou seu terreiro na rua Coronel Mont’Alverne, no bairro Campo dos Velhos.

José Maria Lima, popularmente conhecido como Zé Maria Mulher, Pai de Santo de Umbanda, líder espiritual do Terreiro Ogum Marinho, é uma das figuras mais populares da Umbanda sobralense. Não se sabe se ele foi o primeiro umbandista da cidade, porém, a popularidade que Zé Maria Mulher trouxe para a Umbanda em Sobral é perceptível a todos que adentrarem não apenas em ambientes de pesquisas relacionadas à religião, mas para a grande maioria de umbandistas da cidade. A figura do Pai de Santo é sempre lembrada como pioneira na popularização da religião dentro da cidade, além de deixar para a cidade uma grande quantidade de filhos de santos. Um breve estudo sobre sua memória nos possibilita iniciar um reconhecimento da Umbanda em Sobral. Trouxe para Sobral a quebra de uma identidade de cidade unicamente católica. Por fim, considera-se que mesmo diante de toda dificuldade representativa, a figura do Pai de Santo Zé Maria Mulher trouxe reconhecimento para a religião e construiu, dentro de Sobral, uma imagem constantemente lembrada pela comunidade umbandistas e por uma parcela significativa de cidadãos sobralenses. Zé Maria Mulher morreu em 2008 aos 65 anos, 50 dedicados aos trabalhos espirituais. Afama dos poderes de Zé Maria ganhou o mundo, principalmente, pelos atendimentos certeiros com as cartas de Tarô, realizados na Terreiro de Ogum Marinho, onde morava. Suas giras deixaram de ocorrer, gradativamente, a partir dos anos 2000. As festas preparadas com capricho no terreiro da casa não existirão mais. As giras das terças e sextas terminaram. As mesas e consultas procuradas por centenas de clientes, de todas as camadas sociais, cessaram.

Por fim, a cidade de Sobral hoje realiza o conhecimento dessa religião por meio da Semana da Umbanda de Sobral, no mês de novembro, contando com participações de professores, comunidade em geral e vários Pais de Santo. “Num tempo de intolerância crescente, queremos tornar a Umbanda, religião essencialmente brasileira, conhecida em seus fundamentos, respeitada em sua prática e reconhecida em seu valor religioso e cultural.”

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Esta exposição busca a construção da memória histórica Umbandista por meio do Pai de Santo Zé Maria Mulher, e também sobre o evento Semana da Umbanda em Sobral. Com isso, a apresentação tem como objetivo principal a narrativa de contexto e as transformações que essa região passou e sua relação com a religião. A pesquisa de cunho qualitativo, mediante o uso do método da História Oral, coleta de entrevista com o Pai de Santo e informações agrupadas no livro Nossa Gente, Nossa História: O Ceará Republicano, organizado pelo professor Carlos Augusto Pereira dos Santos da UVA. O estudo demonstra a persistência e resistência de Zé Maria Mulher que ao chegar em Sobral desenvolve suas referências religiosas por meio dos Orixás e das Entidades Espirituais que lhe guiavam, por meio disso, a Umbanda precisou ser reinventada pelo Pai de Santo, em função do Catolicismo relevante na cidade de Sobral. As práticas religiosas realizadas por Zé Maria Mulher ocorriam por meio de soluções e explicações do universo mítico e tinha resposta a partir da dimensão sociocultural em que o indivíduo estava situado. Portanto, Zé Maria Mulher se torna praticamente o primeiro e o indiciador da Umbanda na cidade conhecida como Princesa do Norte.

Zé Maria Mulher e assistentes
Fonte: arquivo do livro Nossa Gente, Nossa História: O Ceará Republicano, 2019

Cortejo dos Povos de Terreiro iniciando a Semana da Umbanda

Fonte: Prefeitura de Sobral, 2022


III Semana da Umbanda de Sobral

Fonte: @Semanadaumbandadesobral, 2019


Mesa redonda de convidados da III Semana da Umbanda de Sobral

Fonte: @Semanadaumbandadesobral, 2019


Apresentação e organização do evento III Semana da Umbanda em Sobral

Fonte: @Semanadaumbandadesobral, 2019


Palestrantes e convidados da III Semana da Umbanda de Sobral

Fonte: @Semanadaumbandadesobral, 2019


------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

  • Referências Bibliográficas:

SANTOS, Carlos Augusto Pereira. Nossa Gente, Nossa História: O Ceará Republicano. Sobral: Sertãocult; Edições UVA, 2019.

Cortejo dos Povos de Terreiros abre Semana da Umbanda nesta terça-feira (15/11. Prefeitura de Sobral, 2022. Disponível em: https://www.sobral.ce.gov.br/informes/principais/cortejo-dos-povos-de-terreiro-abre-semana-da-umbanda-nesta-terca-feira-15-11 . Acesso em: 05, de novembro, de 2022.

Semanadaumbandadesobral. 2019. “Abertura da III Semana da Umbanda de Sobral”. Instagram, 2019.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Equipe:
Wesli Silva
Júlio Cezar
Gabriel Soares
Maria Carmelita
Tamires Ribeiro
Raimundo Santo


sábado, 3 de dezembro de 2022

A guerra dos memes políticos: bolsonarismo x petismo no período eleitoral de 2022.

 


A guerra dos memes entre bolsonarismo e petismo tem relação com o atual cenário político em que se encontra nosso país, que tem por finalidade levar o leitor a ter uma curiosidade sobre os contextos problemáticos  que nossa sociedade está vivenciando, como por exemplo a questão de envolver cores com ideologias, onde vemos uma grande tensão entre vermelho contra o verde e amarelo, separação de famílias em termos políticos, confusão entre religião com política, onde muitos alegam que seu candidato é escolhido por Deus para governar o país, e a questão de uma não conformação dos resultados das urnas eletrônicas, com os pedidos de intervenção militar. São essas as abordagens que a equipe divulgará, propondo reflexões sobre a forma de memes os quais irão representar esse atual cenário.


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


CORES E IDEOLOGIAS


  

 Imagem do instagram @opovoonline


A função deste meme objetiva levar o leitor a compreender o quanto o nosso país foi dividido, o quanto ele foi marcado por diversos pensamentos,  em termo de direita e esquerda, onde surgiram pensamentos contrariando um ao outros. Em alguns aspectos até gerando polêmica, como a questão de que o Nordeste deveria se separar do resto do país, ou que somente algumas regiões do Brasil saberiam o que era melhor para seu futuro.



  

 Imagens da internet e adaptadas/ google


‘‘A nossa bandeira jamais será vermelha’’ e o ‘‘choque de imprensa’’,  foram memes que mais marcaram aquele cenário em que se encontrava nosso país no período eleitoral. Por mais que o tempo passe muitos ainda tendem a ter o mesmo pensamento, como confundir vermelho com comunismo, ou achar que o amarelo de um partido tem a ver com a simbologia do nosso país, imaginando que a TV está sempre contra o partido que detém o poder. Foram essas questões de confundir cores com ideologias que levaram o nosso país a sérios atritos políticos como presenciamos neste ano de 2022.


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


RELIGIÃO / POLÍTICA 


 Imagem da internet/ google


Estes memes denunciam a distorção feita por Bolsonaro durante o período eleitoral e anteriormente. cenário em que o presidente usou de forma recorrente a religião cristã como uma das bases de seu discurso armamentista, tendo como o auge de sua posição uma fala onde afirma que Jesus "não comprou pistola porque não tinha."


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


SEPARAÇÃO DE FAMÍLIA EM TERMOS POLÍTICOS 


Imagem adaptada pela equipe


Esse meme tem por objetivo representar o quanto algumas famílias se dividiram por questões políticas, por cada um ter seu posicionamento, por cada um achar que está certo e o outro errado; e um que não dava atenção ao tema, outro que não aguentava mais ver sua família se acabar por discussões; por uns que não respeitam a opinião de outro membro da família, acabando por gerar brigas, principalmente na hora das refeições. Esses foram aspectos bastantes marcantes durante o período eleitoral, o que gerou muitos casos de brigas físicas ou até mesmo cometimento de crimes familiares por não aceitarem a opinião um do outro.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


INCONFORMAÇÃO DOS RESULTADOS DAS URNAS


Imagem adaptada pela equipe

Esse meme tem por finalidade gerar humor e indignação no leitor pelo simples fato de supor que o brasileiro nunca aceita sua realidade, no caso das urnas não seria diferente, no ano de 2018 foi eleito o presidente Jair Messias Bolsonaro, o que provocou nos petistas incorporações fazendo eles irem às ruas pedirem por a libertação do ex-presidente Lula e falarem que seriam resistência, e já no caso das eleições de 2022,  é eleito o presidente Luís Inácio Lula da Silva, o que provocou uma polêmica e inconformação também nos bolsonarista onde eles afirmaram que houve fraude nas urnas, e que o voto deveria ser impresso para não existir essa suposta fraude que eles afirmam ter.


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


INTERVENÇÃO MILITAR


Atos como esse que estão registrado na imagem acima a respeito da intervenção dos militares em nosso país, ocorre há alguns anos pela Extrema Direita, porém se ampliaram principalmente após o resultado das eleições de 2022, que não foi propício aos mesmos, assim ocorrem diversos protestos em prol dos militares com o objetivo de fechar os principais órgãos que representam a Democracia no Brasil, como  o STF e  Congresso, para que o  presidente Lula que foi eleito não assuma o cargo de presidente em janeiro de 2023.

Imagem adaptada pela equipe

Atos como esse que estão registrado na imagem acima a respeito da intervenção dos militares em nosso país, ocorre há alguns anos pela Extrema Direita, porém se ampliaram principalmente após o resultado das eleições de 2022, que não foi propício aos mesmos, assim ocorrem diversos protestos em prol dos militares com o objetivo de fechar os principais órgãos que representam a Democracia no Brasil, como  o STF e  Congresso, para que o  presidente Lula que foi eleito não assuma o cargo de presidente em janeiro de 2023.


Referência: Imagem da internet/ Google


Podemos observar nesse meme, que o manifestante está na rua protestando a favor da intervenção dos militares  no país, porém quando o mesmo for protestar no cenário de intervenção militar será impossibilitado de manifestar sua opinião por esses mesmos militares, na maioria das vezes sendo impedido e até preso, por isso, na imagem acima ocorre a crítica em relação à intervenção.


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


TRABALHO REALIZADO POR:

- Francisco Breno de Oliveira Sampaio 

- José Gustavo da Costa Lopes 

- Thais Elane Sousa Pontes

- Antônio Igor Aguiar Parente

- André Vicente da Silva Alcântara


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

 Memória e afeto através de tradições religiosas

Patrimônio é herança

De um povo

De uma memória

De um tempo

De um espaço

Patrimônio é cultura

É busca pela identidade

É mais que um monumento

É alteridade

Leilane Silva

___________________________________________________________________________________

A exposição “Memória e afeto através de tradições religiosas” visa manifestar o valor afetivo que as tradicionais novenas cristãs locais carregam e compõe a história de um povo através da fé, de modo que, caracteriza vigorosamente os costumes e tradições que constituem a história de uma cidade. Para os fiéis os festejos são tidos como dias de comunhão, alegria e convivência, posto que marca um momento de celebração do santo que abençoa e protege a cidade.


Igreja Matriz de Guaraciaba do Norte
Fonte: arquivo pessoal

Guaraciaba do Norte está situada na serra da Ibiapaba, os tradicionais festejos da padroeira são celebrados entre os dias 05 e 15 do mês de agosto, a cidade tem como padroeira Nossa Senhora dos Prazeres. A devoção à padroeira se iniciou ainda no século XVIII, no ano de 1741 com a chegada do padre Felipe Dias Santiago, que foi quem construiu a primeira capela da cidade que, na época, chamava-se “Campo Grande”. A veneração à nossa senhora dos Prazeres começou em Portugal durante o século XVI, quando a santa se revelou a uma criança na então fonte portuguesa conhecida como “Fonte Santa” onde os milagres  começaram a acontecer e curar as pessoas que bebiam da fonte. Em Guaraciaba, a igreja matriz em devoção à padroeira tem em seu altar uma imagem que mede 1,80 metros de altura trazida da França na década de 1930, encomendada pelo padre Nelson Nogueira Mota, a imagem veio de navio e depois de trem até a estação localizada na cidade vizinha de Ipu, até chegar em procissão a Guaraciaba do Norte. No ano de 2022 a cidade celebra 261 anos de tradição e devoção a protetora da cidade, Nossa Senhora dos Prazeres.



___________________________________________________________________________________________________


O propósito da presente exposição é compartilhar com o público a história dos costumeiros festejos das cidades cearenses de Bela Cruz, Guaraciaba do Norte, Hidrolândia, Massapê, e os distritos de  São José do Torto e Patriarca, em Sobral, conduzindo o visitante a conhecer a história da igreja matriz das cidades, bem como o seu padroeiro, tendo em vista a perspectiva de representar a relação da afetividade religiosa com a história e desenvolvimento dos municípios.

Igreja Matriz de Bela Cruz
Fonte: imagem retirada da internet
Por volta de 1798, com a demolição da “Capela da Genoveva”, teve início a construção de uma capela exatamente no mesmo lugar: a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Em 1923, o então vigário de Acaraú, Pe Antônio Tomás, juntamente com o Fabriqueiro Manoel Duca da Silveira empreendeu uma grande reforma naquele templo. O projeto pretendia dar nova fisionomia ao templo, substituindo-lhe antigo aspecto por novas linhas arquitetônicas. Sob a supervisão do Padre Severiano a obra foi iniciada. Então o teto foi derrubado e quase todas as paredes foram demolidas e uma nova igreja foi levantada, dentro do plano estabelecido. Por carência de recursos, logo depois, a obra foi executada muito lentamente, todavia foi pintada por dentro e os atos religiosos foram sendo realizados ali mesmo.
Em junho de 1945, Monsenhor Odécio Loiola Sampaio dá início a uma reforma e ampliação da igreja Matriz de Bela Cruz. A obra foi dirigida pelo arquiteto italiano Agostinho Odísio Balme e supervisionada pelo próprio Mons. Odécio. Em 21 de setembro de 1948 a igreja Matriz é reinaugurada. Em 22 de março de 1984, às 12h, desaba parte do forro do teto. Nesse mesmo ano, Mons. Odécio mandou reconstruir, as pinturas e desenhos ali existentes.
___________________________________________________________________________________________________

Os monumentos históricos e religiosos representam muito mais do que devoção, representam também um espaço de memória e afeto por trás de tradições religiosas. A exposição apresenta os patrimônios históricos que foram e ainda são importantes para a equipe afetivamente, embora não sejam praticantes da religião católica que  por sua vez se faz protagonista. Cada igreja exposta representa um espaço de construção de memórias de uma comunidade, principalmente através dos festejos, que embora sejam o que há em comum em cada cidade ou distrito, apresentam suas singularidades e suas próprias histórias.

Igreja Matriz de Hidrolândia
Fonte: arquivo pessoal


Hidrolândia é uma cidade localizada no interior do Ceará e tem como padroeira Nossa senhora da Conceição, com festejos que ocorrem sempre no mês de dezembro. Os festejos da paróquia de Nossa senhora da Conceição são repletos de tradições, como leilões, bingos, novenas, missas e também temos a sagrada caminhada percorrendo toda a cidade, com a população católica acompanhada pela imagem da padroeira de Hidrolândia.




___________________________________________________________________________________________________

Os monumentos também apresentam uma trajetória religiosa, onde cada rito, cada costume   absorvido coletivamente, formam um jogo de diálogos com o imaginário da comunidade e constroem uma comunicação inter-regional, ou seja, vemos que diversas regiões tem especificidades que as ligam em uma rede de uma mesma devoção cultural. Trata-se, portanto, de um exemplo das múltiplas possibilidades de entendimento de um processo simbólico que não se perdeu uma vez que, o patrimônio tem se revelado como meio de erguer monumentos (materiais e imateriais) históricos e ajudar no combate ao esquecimento de memórias, histórias e heranças culturais de cada região. Além disso, as festas religiosas são um fenômeno cultural que abrange o campo de investigação histórica, revelando não somente crenças, mas vivências marcadas pelo tempo e características de uma identidade coletiva.

Igreja Matriz de Patriarca Sobrl-CE
Fonte: imagem retirada da internet

O distrito de Patriarca, anteriormente chamado de São José, é um dos distritos mais antigos do município de Sobral, sendo mais velho que a própria cidade. Tem a carnaúba como principal matéria para fonte de renda, principalmente para a confecção de chapéus, o que resultou na chegada de mais pessoas e posteriormente a migração para a cidade em ascensão. A igreja de Patriarca, pertencente à paróquia da Sé, na Diocese de Sobral e datada do século XVIII, é uma das mais antigas da região norte do estado e honra a padroeira Nossa Senhora da Conceição, tendo os festejos religiosos no final do mês outubro e começo do mês de novembro.

Como o distrito é pequeno, as novenas são aguardadas e organizadas pela população durante o ano inteiro, tanto para devoção à Nossa Senhora da Conceição, quando as pessoas fazem promessas, quanto como fonte de renda para os moradores, já que é um momento que as famílias mais antigas retornam ao seu lugar de origem e o distrito recebe muitos visitantes, incluindo de outros estados. O dia mais importante dos festejos é em 02 de novembro, com celebração para os finados o dia inteiro. Além disso, muitas pessoas costumam ir para o distrito para vender peças de artesanato ou comida, por exemplo.

___________________________________________________________________________________________________

Ademais, vemos que as festas religiosas delimitam um espaço de sociabilidade onde a interação social é fundida tanto de moradores locais, como também de visitantes, gerando relações humanas de afeto e emoções, sendo uma prática que permite a essência do respeito e da fé, constituindo assim um verdadeiro patrimônio cultural num leque de expressões religiosas.

Igreja Matriz de São José do Torto
Fonte: arquivo pessoal

São José do Torto é um distrito do município de Sobral e tem como padroeiro São José, cuja festa ocorre no mês de março. Dessa forma, o evento que abre o período de festejos da região é a tradicional Cavalgada de São José do Torto, que tem como maior objetivo homenagear o padroeiro. O coordenador do evento, Benevaldo Carvalho, explica que essa cavalgada já é considerada a maior do Brasil em número de participantes. "É um evento de aspecto religioso, que homenageia São José, padroeiro, recebendo grande integração de católicos e prestando também agradecimento a chuva mandada para os agricultores nessa época de devoção ao santo", disse Benevaldo. Além da cavalgada ocorre também as novenas e as procissões pelas ruas o que possui forte representatividade na comunidade local caracterizando traços marcantes da memória social e do patrimônio cultural.


Igreja Matriz de Massape
Fonte: arquivo pessoal

A Igreja da Matriz no município de Massapê foi construída entre 1960 e 1973, após a demolição da antiga e primitiva igreja de Santa Úrsula, primeira padroeira da cidade. Atualmente é conhecida como Igreja da Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, atual padroeira do município. A festa de mesmo nome da padroeira acontece todo ano no mês de agosto, tendo início no dia 4 com o Alvorada que acontece as 5 da manhã, e consiste na queima de fogos e no hasteamento da bandeira do município, e encerrando no dia 15 com a festa e a procissão de nossa senhora, que conta com a presença de centenas de pessoas que saem em uma caminhada pelas ruas da cidade para agradecer pelas graças alcançadas. Sendo dia 15 feriado reconhecido pelo decreto de N° 16/2017 como o dia da padroeira do município. A tradição católica é desde o início muito influente no município de Massapê, que conta com um povo bastante devoto aos seus santos e por isso é repleta de símbolos desta religiosidade nas casas das pessoas, nas praças da cidade e até nos nomes das ruas e bairros. Desta maneira a igreja da Matriz é reconhecida como o patrimônio religioso mais importante da cidade.

___________________________________________________________________________________________________


EQUIPE: 

Caiane Vasconcelos Viana

Camila Marques de Sousa

Francisco Michael de Sousa

Kaiane Ferreira Gomes

Maria Iasmy Martins Oliveira

Maria Leilane Nascimento Silva

Victória de Jesus Gomes Viana de Oliveira


terça-feira, 22 de novembro de 2022

“Burundangas: banalidades, trabalho e subversão”

A exposição “Burundangas: banalidades, trabalho e subversão” carrega esse nome pela simbologia presente nos objetos selecionados. A escolha da palavra “burundanga” faz referência a um conceito usado para se referir às coisas vistas como “sem valor para a sociedade'', podendo até ser descrita como “confusão” pelo dialeto africano. Nesse sentido, nossa proposta é levar o público a refletir como, em uma sociedade mediada pelo capital, os objetos mais banais carregam caráter de classe e guardam memórias de trabalho que são importantes para a identificação de uma história em torno de um objeto. No entanto, o foco não é no objeto em si e muito menos no modo de realização do trabalho, mas nas memórias cativadas por indivíduos que apresentam, com nostalgia e emoção, suas trajetórias e maneiras de viver que fogem da esfera do poder e se realizam na subjetividade, podendo ser consideradas “banais” para o olhar colonizado.

O museu por muito tempo trouxe, na sua genealogia, a reprodução dos modos de vida e organização de grupos detentores do poder e, por meio da abrangência dos objetos cotidianos nas exposições, podemos disputar a narrativa em torno dos museus e apresentar as demais particularidades como possíveis de representação. Nesse sentido, tal disputa deve ocorrer a partir das pessoas e comunidades que se relacionam diretamente com os objetos expostos, tendo em vista que são suas memórias e subjetividades que estão ali representadas. Além disso, objetiva-se romper com a hierarquia existente nesses espaços, uma vez que a experiência individual não pode ser totalmente compreendida e compartilhada “sob a luz” de uma narrativa externa ao indivíduo.

Ao falar-se de museus e exposições há, assim como na historiografia, produção de memórias e esquecimentos que resultam das seleções ali feitas. Dessa maneira, pode-se chamar tal produção de “narrativa”, uma vez que a narrativa se dá no discurso que apresenta uma parcela da realidade e cria pontes entre a realidade e o imaginário social.

Assim, como debatido no tópico dedicado aos objetivos da exposição, os museus por anos carregaram na sua estrutura uma narrativa colonial e de dominação, ou seja, contaram as memórias e particularidades sociais tendo um enfoque na classe detentora do poder. Ademais, a contestação desse modelo colonial só passou a ser problematizado quando a “alternativa” se torna importante pro comércio.

Desse modo, tratar de uma alternativa de representação da memória que não esteja voltada para o mercado e que seja construída pelo povo e para o povo é importante para que a descolonização carregue, para além das problematizações culturais, um caráter de representação de classe. Portanto, a narrativa montada pela exposição carrega relações de trabalho e vivência cotidiana que revelam particularidades e experiências que não se concentram na posse fetichizada que o capital impulsiona.

Nesse ínterim, pode-se afirmar que a narrativa carregada pela exposição é descolonial e de classe.

OBJETOS DA EXPOSIÇÃO:

(Foto cedida por Luiza Marilac da Costa, da sua máquina de datilografia)


A máquina de datilografia, pertenceu à professora Maria José Pinto da costa, que também era diretora da escola de datilografia Neudson, registrada pela prefeitura de Fortaleza. O espaço ficava localizado na avenida Visconde de Pelotas N°13, em frente ao mercado dos piões-Fortaleza CE.
Com seu trabalho, dona Maria José foi capaz de criar seus 5 filhos que, com gratidão, honram à mãe pela educação recebida e por terem tido a oportunidade de alcançar a formação acadêmica. Assim, a professora Maria José também contribuiu através de suas aulas para a formação de vários profissionais das mais diversas áreas. 
Infelizmente, nenhum de seus filhos deram continuidade à escola, que teve por fim seu fechamento. Com isso, a cunhada Luiza Marilac da Costa adquiriu a máquina datilográfica (que está sob seus cuidados até os dias atuais), e a mantém como um símbolo de grandes memórias e curiosidades para suas visitas.


(Diploma de um dos filhos de Maria José, formado no curso)

(Maria José, diretora da escola)


________________________________________________________________________________

(Cangalha e cambito)

A imagem mostra dois objetos antigos que são utilizados em conjunto, são eles a cangalha e o cambito. São objetos utilizados para auxiliar na vivência de trabalhadores rurais, levando maior facilidade na renda, alimentação, comércio, etc. Esses objetos serviam para carregar coisas, como a maniva, estacas, lenhas, que são coisas usadas no dia a dia dos trabalhadores rurais. Servia como uma maneira mais fácil de realizar as atividades, e como antes não havia caminho, apenas o que é conhecido como varedas, que é um tipo de caminho mais estreito, era mais propício o uso da cangalha e o cambito; uma vez que, não tinha espaço e nem outros meios como mais a frente veio surgir a carroça. Esses objetos eram usados em um animal, geralmente o burro ou jumento. Assim, com esse auxílio, que ajudava muito a mão de obra humana, eram feitos os roçados, para se fazer plantios, as farinhadas, coisas nesse sentido, que estão ligadas com os feitos dos trabalhadores rurais.

________________________________________________________________________________

                   (Monóculos da família Veiga)


Em caixas de sapatos, no fundo de gavetas, dentro de baús... Ele cabe em qualquer lugar. O monóculo de fotografia talvez seja um velho conhecido dos seus avós, tios, pais ou pode até mesmo ter feito parte de sua infância. De formato cônico e medindo poucos centímetros, esse objeto nostálgico cabe na palma da mão, mas não se engane: por menor e mais singelo que seja, o monóculo possui valor inestimável para algumas pessoas, principalmente aquelas que viveram em um período onde a fotografia digital era inexistente. A possibilidade de guardar pequenos fragmentos de memória em um objeto acessível de qualquer lugar, tornou-se um “luxo” cobiçado e largamente utilizado, principalmente entre as décadas de 60 a 80. Serviam para registrar viagens, passeios, espetáculos de circo ou mesmo cenas cotidianas, vivenciadas por famílias de todo o país. Os fotogramas eram revelados em cromo numa película semitransparente, que ao serem encaixados numa tampinha branca, permitiam a passagem da luz e assim, era possível enxergar uma pequena fotografia ao posicionar o olho na lente de aumento presente na outra extremidade. Até hoje é possível encontrá-los, mas não com a mesma frequência que no passado. Atualmente costumam ser utilizados como chaveiros e lembrancinhas de festas. Na foto, há dois exemplares de modelo antigo que pertenceram a Francisco José Veiga. Ele residiu boa parte de sua vida em Amanaiara (distrito de Reriutaba-CE), onde trabalhou por anos como agricultor. Ainda bem jovem, viajou para o Rio de Janeiro, onde morou por muito tempo e trabalhou como cozinheiro. Como é possível constatar, a qualidade das fotografias não é das melhores, mas o encanto e simbolismo dos monóculos nunca se perderam e os fizeram ultrapassar várias gerações da família Veiga, que até hoje guarda alguns desses objetos com nostalgia. Meu pai (presente em ambas as fotos) costumava contar muitas histórias sobre sua infância, juventude e sobre a nossa família no geral – apenas por meio dessas histórias, que conheci meus avós e também por meio delas que soube da existência dos monóculos. Esses da imagem ilustram um contexto em que as famosas calças “boca de sino” e os longos cabelos masculinos eram uma febre, como ele mesmo costumava falar. Além dele, minha tia (também já falecida) guardava muitos monóculos de fotos de familiares, que depois passaram a aparecer mais nos álbuns de fotografias até chegar nas imagens digitais. Ainda assim, lembro-me que no tempo áureo da infância chegava a ser mágico ficar diante de tantos monóculos e contemplar com expectativa a imagem escondida dentro de cada um deles. Esse é certamente um dos objetos mais emblemáticos dos quais me lembro ter ouvido falar e considero um privilégio sublime a possibilidade de ver, ainda nos dias de hoje, semblantes e rostos conhecidos (ou não) há tanto tempo congelados e emoldurados para sempre atrás de uma lente, que apesar de minúscula, é carregada de significados. Por fim, e como muito bem enunciou o jornalista e escritor Caio Fernando Abreu, “Como doem as perdas para sempre perdidas, e, portanto, irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos”.

________________________________________________________________________________

(Máquina de cortar cabelo)

A máquina de cortar cabelo foi inventada por Nikola Bizumic no século 19, esse é um dos modelos que foram produzidos, tendo como primeiro dono o Sr. Paulo José, ele era bisavó de Maicon. Paulo começou utilizar a máquina no fim da década de 50, tinha bastante apreço pelo objeto, visto que na época boa parte dos barbeiros convencionais utilizavam apenas a tesoura. Paulo morava em Várzea Alegre, vinha de origens humildes, seus pais eram agricultores, foi como barbeiro que ele tirou o sustento de seu lar, trabalhava atendendo todas as classes sociais, costumava ir para zona urbana atrás de novos clientes. Com o passar do tempo mais barbeiros foram aderindo o corte com essa máquina, se tornando algo mais popular, mas ele a utilizou por cerca de 40 anos, parando de usar completamente perto dos anos 2000, pois já era um senhor de idade.

Toda a história que vocês acabaram de ler me foi repassada pelo Sr. Naldo Moreira, que trabalha como barbeiro há 7 anos, sendo essa uma das principais fontes de renda da sua família, ele é o atual dono dessa relíquia, ganhou a máquina do seu cliente Maicon (bisneto de Paulo), o objeto é exposto em um quadro na barbearia “Seu estilo” juntamente com outras peças do pequeno acervo histórico do Sr. Naldo.

Atualmente parece que os produtos dessa geração são feitos para rapidamente serem descartados, normalmente quando algo está velho logo se diz “Joga fora isso, ninguém nem usa mais”, se algum dos parentes do Sr. Paulo tivessem seguido isso, provavelmente essa relíquia teria sido destruída. Não apenas o Naldo gostava de colecionar objetos, como sua mãe Adelaide também, já a filha da mesma não gostava tanto assim desse hábito, então em qualquer oportunidade tentava jogar fora os itens que ela denominava como “velhos”. Dona Adelaide com seu fino humor costumava dizer aos amigos e parentes “Se um dia vocês verem um saco preto grande na calçada, podem correr para abrir, foi minha filha que me jogou fora por estar velha demais”.


(Selfie de Naldo Brito, atual dono da máquina de cortar cabelo.)


________________________________________________________________________________

(Canivete do Orlando Mendes.)

Canivete adquirido por Antônio Orlando dos Santos Ramos (44) a pelos menos 25 anos atrás. Objeto que acompanhou parte significativa de sua juventude, enquanto morador da zona rural de Viçosa do Ceará, e trabalhador rural explorado desde os 9 anos de idade pela condição estrutural de pobreza e fome que o sobrecarregou com a responsabilidade de não deixar a mãe e os irmãos morrerem de fome. Sofrimento atenuado através de pequenas coisas, como a própria compra desse canivete, os jogos de futebol aos sábados e a certeza de longas conversas com os amigos enquanto descascava laranjas com a ainda afiada lâmina da faca, a sensação de defesa ao frequentar festas em locais desconhecidos com a certeza de poder zelar pela própria vida com o canivete no bolso, em um espaço social marcado pelo simbolismo da arma branca enquanto instrumento de trabalho e meio que imbuía de certa potência o trabalhador, ainda que a lâmina desse canivete nunca tenha sido manchada com sangue humano. Após o casamento, filho e a mudança de cidade, o canivete ficou esquecido na gaveta de um velho armário até ser encontrado por uma criança de 6 anos que passou os seguintes 7 anos brincando de ninja e levando para a escola como um objeto exótico para impressionar os colegas, virando efetivamente um brinquedo proibido dado a sua letalidade, mas hoje sendo apenas mais uma “burundanga” no meu quarto.

________________________________________________________________________________

Trabalho realizado por:

Nataniele dos Reis Gomes

Ícaro Janderson Linhares

Orlando Mendes Ramos

Izabel Jeane Vieira Veiga

Carmen Soraya de Paula dos Santos

Misa Gonçalves da Silva