Objetos religiosos na tradição familiar.

Podendo ser considerado banal ou irrelevante para uns, ou representativo e memorialista para outras pessoas, um objeto pode perpassar ou significar determinado momento de uma vida, seja uma lembrança, memória ou até mesmo certa tradição. A carga afetiva que um objeto representa, ultrapassa a barreira de preceitos e conceitos que possam ser acompanhados durante toda uma vida, ou seja, ressignificando os mesmos como a religiosidade por exemplo, os objetos de cunho religioso que são repassados ao longo dos tempos pelas famílias, tendem (atualmente) ter maior caráter afetivo e memorialístico, porém também para as famílias mais tradicionalistas, essas preferem continuar cultuando as premissas religiosas no qual mantêm e preservam estes objetos para que a tradição religiosa familiar seja mantida.

As tradições da religião Católica Apostólica Romana, por exemplo, estão presentes desde o nascimento até a morte do indivíduo, sendo repassadas de geração em geração. Além dessas tradições, são perpassados objetos de cunho religioso, como santos ou terços.

Nesse ensaio temos como objetivo trazer vários desses objetos com o intuito de representar os costumes familiares de guardar artefatos de caráter religioso como forma de lembrar de alguém ou de algum acontecimento.

Mais do que demonstrar o respeito que as famílias possuem por esses objetos, mostramos também o laço afetivo que esse ato de recordação e memória traz.

•  Quadro de Nossa Senhora do Bom Parto pertencente à família de Silviane.

O quadro de Nossa Senhora do Bom Parto pertence a dona Francisca, mãe de uma das integrantes da equipe.

Dona Francisca contou que ficou apaixonada pelo quadro assim que o viu, pois lembra de um momento muito importante e difícil de sua vida: o nascimento da sua primeira e única filha.

Por ter sido um parto difícil, ela relatou que no momento do desespero se apegou com a santa e orou para ter um bom parto.

A imagem da santa não simboliza apenas um ato religioso, mas também afeto e lembranças que jamais serão esquecidas.

• Imagem de Nossa Senhora da Conceição pertencente à família de Beatriz.

Imagem de Nossa Senhora da Conceição comprada pela bisavó da Beatriz. Quando ela morreu, foi passada para a avó e ficou com ela, até hoje está aqui em casa sendo, agora, de sua mãe.

Essa imagem é importante para a família e sua simbologia ultrapassa gerações.

• Foto do Batizado da integrante Silviane.

O batismo é o primeiro dos sacramentos. A igreja católica deixa claro que através do batismo é que somos purificados dos pecados originais para começarmos a seguir o nosso caminho, além de termos acesso aos outros sacramentos a partir daí.

A foto simboliza uma data importante e marcante, que traz boas lembranças. O momento é único e lindo para pais de primeira viagem.

• Imagem de Nossa Senhora Aparecida pertencente à família de Silviane.

A Santa de encontra na casa da integrante Silviane. Foi de sua avó paterna, mas depois de sua morte acabou ficando para seu pai, Silvio. 

Ele conta que não é devoto a santa, mas ele levou para sua casa porque o lembra da sua mãe.

Atualmente a Santa não simboliza algo religioso, mas sim sentimental, representando amor,  saudade, e lembranças afetivas.

• Quadro de Nossa Senhora Aparecida pertencente à família de Daniel.

Apesar de ser uma imagem de Santo, não representa religiosidade para minha família.

É comum que em casas de famílias com pessoas mais velhas e cristãs exista esse tipo de imagem.

Para a minha família é mais uma questão de tradição manter essa imagem, já que está presente há muito tempo.

A imagem foi trazida da cidade do Rio de Janeiro pelo meu avô há 52 anos. Pelo que relata minha mãe, a imagem tem afetividade e uma enorme representação de memória, pois ela era bastante apegada ao seu pai. Além disso, também remete às memórias de sua infância, quando familiares, amigos e conhecidos dos seus pais se encontravam na casa deles para realizar novenas, colocar fitas na imagem do santo e até mesmo pagar promessas.

Mesmo que tenha sido uma imagem que um dia representou tanta devoção e fé, hoje a mesma representa afeto pela memória e saudade dos que já se foram.

• Quadro de Santa Cecília pertencente a família de Daniel.

Essa imagem já não se tem tanto uma história em si, mas a mesma já está na família há mais de 15 anos, tendo sido um presente da avó do meu padrasto para ele.

Ela representa afetividade por ser um bem de família e por fazer lembrar de pessoas especiais.

• Imagem da Sagrada Família pertencente à família de Silviane.

Essa imagem é a representação simbólica da sagrada família e pertence à minha avó materna.

Ela ganhou da minha prima, que trouxe de Canindé há 8 anos para presenteá-la.

A mesma tem um grande valor e significado para minha avó, pois a mesma é devota da sagrada família. Sendo assim, para a minha avó, essa imagem representa muito mais do que um valor "símbolo", sendo também uma questão de identidade, de pertencimento à religião através do elo afetivo, demonstrando o respeito e a devoção existentes pelos objetos religiosos.

• Roupa de batizado pertencente à família de Rosinélia.

O apego e o profundo respeito que minha família tem pela religião católica foi herança da minha bisavó materna.

Essa roupa foi usada no batismo dos meus dois irmãos e do meu primo. Hoje já faz mais de 10 anos que está guardada com muito cuidado.

Para alguns pode parecer que é apenas uma roupa, nada muito relevante, mas para minha família ela tem um grande significado, pois representa o ritual do batismo, que traz recordações e, simultaneamente, memórias desses momentos importantes, e por esse motivo nós resolvemos preservar até hoje.

• Lembranças do batismo de Piedade.

Os objetos acima possuem quase 20 anos, datando de meados de junho de 2003 e pertencem a mim. Minha mãe me fala que sempre teve uma fé muito grande na religião católica e, por isso, tinha medo de ter uma filha pagã em casa. Portanto, optou por me batizar com apenas 21 dias de nascida.

A decisão foi tão apressada que meu avô materno, que foi responsável pela compra do vestido e sapatos, também foi meu padrinho junto a minha avó materna.

A roupa ficou frouxa em meu corpo pequeno e magro, mas traz uma importância simbólica que minha mãe guarda com cuidado e carinho até os dias de hoje.

Desde o momento do parto, a religião católica me influenciou a trilhar vários caminhos, pois até mesmo meu nome, Piedade, vem dela.

Meu nome foi dado devido a uma promessa para Nossa Senhora da Piedade, onde minha mãe pedia para que meu parto fosse bem sucedido.

Ao olhar para a foto, percebo que desde o início os meus padrinhos/avós foram muito presentes e influentes em minha vida, principalmente, por serem bem religiosos, sempre me aconselhando e mostrando o caminho dessa religião.

Equipe:

Carlos Daniel do Nascimento Brito

Francisca Silviane Gomes da Silva

Maria Beatriz Mendes de Sousa

Piedade Aguiar Abreu

Rosinélia Agostinho Mendonça