segunda-feira, 28 de novembro de 2022

 Memória e afeto através de tradições religiosas

Patrimônio é herança

De um povo

De uma memória

De um tempo

De um espaço

Patrimônio é cultura

É busca pela identidade

É mais que um monumento

É alteridade

Leilane Silva

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A exposição “Memória e afeto através de tradições religiosas” visa manifestar o valor afetivo que as tradicionais novenas cristãs locais carregam e compõe a história de um povo através da fé, de modo que, caracteriza vigorosamente os costumes e tradições que constituem a história de uma cidade. Para os fiéis os festejos são tidos como dias de comunhão, alegria e convivência, posto que marca um momento de celebração do santo que abençoa e protege a cidade.


Igreja Matriz de Guaraciaba do Norte
Fonte: arquivo pessoal

Guaraciaba do Norte está situada na serra da Ibiapaba, os tradicionais festejos da padroeira são celebrados entre os dias 05 e 15 do mês de agosto, a cidade tem como padroeira Nossa Senhora dos Prazeres. A devoção à padroeira se iniciou ainda no século XVIII, no ano de 1741 com a chegada do padre Felipe Dias Santiago, que foi quem construiu a primeira capela da cidade que, na época, chamava-se “Campo Grande”. A veneração à nossa senhora dos Prazeres começou em Portugal durante o século XVI, quando a santa se revelou a uma criança na então fonte portuguesa conhecida como “Fonte Santa” onde os milagres  começaram a acontecer e curar as pessoas que bebiam da fonte. Em Guaraciaba, a igreja matriz em devoção à padroeira tem em seu altar uma imagem que mede 1,80 metros de altura trazida da França na década de 1930, encomendada pelo padre Nelson Nogueira Mota, a imagem veio de navio e depois de trem até a estação localizada na cidade vizinha de Ipu, até chegar em procissão a Guaraciaba do Norte. No ano de 2022 a cidade celebra 261 anos de tradição e devoção a protetora da cidade, Nossa Senhora dos Prazeres.



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O propósito da presente exposição é compartilhar com o público a história dos costumeiros festejos das cidades cearenses de Bela Cruz, Guaraciaba do Norte, Hidrolândia, Massapê, e os distritos de  São José do Torto e Patriarca, em Sobral, conduzindo o visitante a conhecer a história da igreja matriz das cidades, bem como o seu padroeiro, tendo em vista a perspectiva de representar a relação da afetividade religiosa com a história e desenvolvimento dos municípios.

Igreja Matriz de Bela Cruz
Fonte: imagem retirada da internet
Por volta de 1798, com a demolição da “Capela da Genoveva”, teve início a construção de uma capela exatamente no mesmo lugar: a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Em 1923, o então vigário de Acaraú, Pe Antônio Tomás, juntamente com o Fabriqueiro Manoel Duca da Silveira empreendeu uma grande reforma naquele templo. O projeto pretendia dar nova fisionomia ao templo, substituindo-lhe antigo aspecto por novas linhas arquitetônicas. Sob a supervisão do Padre Severiano a obra foi iniciada. Então o teto foi derrubado e quase todas as paredes foram demolidas e uma nova igreja foi levantada, dentro do plano estabelecido. Por carência de recursos, logo depois, a obra foi executada muito lentamente, todavia foi pintada por dentro e os atos religiosos foram sendo realizados ali mesmo.
Em junho de 1945, Monsenhor Odécio Loiola Sampaio dá início a uma reforma e ampliação da igreja Matriz de Bela Cruz. A obra foi dirigida pelo arquiteto italiano Agostinho Odísio Balme e supervisionada pelo próprio Mons. Odécio. Em 21 de setembro de 1948 a igreja Matriz é reinaugurada. Em 22 de março de 1984, às 12h, desaba parte do forro do teto. Nesse mesmo ano, Mons. Odécio mandou reconstruir, as pinturas e desenhos ali existentes.
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Os monumentos históricos e religiosos representam muito mais do que devoção, representam também um espaço de memória e afeto por trás de tradições religiosas. A exposição apresenta os patrimônios históricos que foram e ainda são importantes para a equipe afetivamente, embora não sejam praticantes da religião católica que  por sua vez se faz protagonista. Cada igreja exposta representa um espaço de construção de memórias de uma comunidade, principalmente através dos festejos, que embora sejam o que há em comum em cada cidade ou distrito, apresentam suas singularidades e suas próprias histórias.

Igreja Matriz de Hidrolândia
Fonte: arquivo pessoal


Hidrolândia é uma cidade localizada no interior do Ceará e tem como padroeira Nossa senhora da Conceição, com festejos que ocorrem sempre no mês de dezembro. Os festejos da paróquia de Nossa senhora da Conceição são repletos de tradições, como leilões, bingos, novenas, missas e também temos a sagrada caminhada percorrendo toda a cidade, com a população católica acompanhada pela imagem da padroeira de Hidrolândia.




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Os monumentos também apresentam uma trajetória religiosa, onde cada rito, cada costume   absorvido coletivamente, formam um jogo de diálogos com o imaginário da comunidade e constroem uma comunicação inter-regional, ou seja, vemos que diversas regiões tem especificidades que as ligam em uma rede de uma mesma devoção cultural. Trata-se, portanto, de um exemplo das múltiplas possibilidades de entendimento de um processo simbólico que não se perdeu uma vez que, o patrimônio tem se revelado como meio de erguer monumentos (materiais e imateriais) históricos e ajudar no combate ao esquecimento de memórias, histórias e heranças culturais de cada região. Além disso, as festas religiosas são um fenômeno cultural que abrange o campo de investigação histórica, revelando não somente crenças, mas vivências marcadas pelo tempo e características de uma identidade coletiva.

Igreja Matriz de Patriarca Sobrl-CE
Fonte: imagem retirada da internet

O distrito de Patriarca, anteriormente chamado de São José, é um dos distritos mais antigos do município de Sobral, sendo mais velho que a própria cidade. Tem a carnaúba como principal matéria para fonte de renda, principalmente para a confecção de chapéus, o que resultou na chegada de mais pessoas e posteriormente a migração para a cidade em ascensão. A igreja de Patriarca, pertencente à paróquia da Sé, na Diocese de Sobral e datada do século XVIII, é uma das mais antigas da região norte do estado e honra a padroeira Nossa Senhora da Conceição, tendo os festejos religiosos no final do mês outubro e começo do mês de novembro.

Como o distrito é pequeno, as novenas são aguardadas e organizadas pela população durante o ano inteiro, tanto para devoção à Nossa Senhora da Conceição, quando as pessoas fazem promessas, quanto como fonte de renda para os moradores, já que é um momento que as famílias mais antigas retornam ao seu lugar de origem e o distrito recebe muitos visitantes, incluindo de outros estados. O dia mais importante dos festejos é em 02 de novembro, com celebração para os finados o dia inteiro. Além disso, muitas pessoas costumam ir para o distrito para vender peças de artesanato ou comida, por exemplo.

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Ademais, vemos que as festas religiosas delimitam um espaço de sociabilidade onde a interação social é fundida tanto de moradores locais, como também de visitantes, gerando relações humanas de afeto e emoções, sendo uma prática que permite a essência do respeito e da fé, constituindo assim um verdadeiro patrimônio cultural num leque de expressões religiosas.

Igreja Matriz de São José do Torto
Fonte: arquivo pessoal

São José do Torto é um distrito do município de Sobral e tem como padroeiro São José, cuja festa ocorre no mês de março. Dessa forma, o evento que abre o período de festejos da região é a tradicional Cavalgada de São José do Torto, que tem como maior objetivo homenagear o padroeiro. O coordenador do evento, Benevaldo Carvalho, explica que essa cavalgada já é considerada a maior do Brasil em número de participantes. "É um evento de aspecto religioso, que homenageia São José, padroeiro, recebendo grande integração de católicos e prestando também agradecimento a chuva mandada para os agricultores nessa época de devoção ao santo", disse Benevaldo. Além da cavalgada ocorre também as novenas e as procissões pelas ruas o que possui forte representatividade na comunidade local caracterizando traços marcantes da memória social e do patrimônio cultural.


Igreja Matriz de Massape
Fonte: arquivo pessoal

A Igreja da Matriz no município de Massapê foi construída entre 1960 e 1973, após a demolição da antiga e primitiva igreja de Santa Úrsula, primeira padroeira da cidade. Atualmente é conhecida como Igreja da Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, atual padroeira do município. A festa de mesmo nome da padroeira acontece todo ano no mês de agosto, tendo início no dia 4 com o Alvorada que acontece as 5 da manhã, e consiste na queima de fogos e no hasteamento da bandeira do município, e encerrando no dia 15 com a festa e a procissão de nossa senhora, que conta com a presença de centenas de pessoas que saem em uma caminhada pelas ruas da cidade para agradecer pelas graças alcançadas. Sendo dia 15 feriado reconhecido pelo decreto de N° 16/2017 como o dia da padroeira do município. A tradição católica é desde o início muito influente no município de Massapê, que conta com um povo bastante devoto aos seus santos e por isso é repleta de símbolos desta religiosidade nas casas das pessoas, nas praças da cidade e até nos nomes das ruas e bairros. Desta maneira a igreja da Matriz é reconhecida como o patrimônio religioso mais importante da cidade.

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EQUIPE: 

Caiane Vasconcelos Viana

Camila Marques de Sousa

Francisco Michael de Sousa

Kaiane Ferreira Gomes

Maria Iasmy Martins Oliveira

Maria Leilane Nascimento Silva

Victória de Jesus Gomes Viana de Oliveira


terça-feira, 22 de novembro de 2022

“Burundangas: banalidades, trabalho e subversão”

A exposição “Burundangas: banalidades, trabalho e subversão” carrega esse nome pela simbologia presente nos objetos selecionados. A escolha da palavra “burundanga” faz referência a um conceito usado para se referir às coisas vistas como “sem valor para a sociedade'', podendo até ser descrita como “confusão” pelo dialeto africano. Nesse sentido, nossa proposta é levar o público a refletir como, em uma sociedade mediada pelo capital, os objetos mais banais carregam caráter de classe e guardam memórias de trabalho que são importantes para a identificação de uma história em torno de um objeto. No entanto, o foco não é no objeto em si e muito menos no modo de realização do trabalho, mas nas memórias cativadas por indivíduos que apresentam, com nostalgia e emoção, suas trajetórias e maneiras de viver que fogem da esfera do poder e se realizam na subjetividade, podendo ser consideradas “banais” para o olhar colonizado.

O museu por muito tempo trouxe, na sua genealogia, a reprodução dos modos de vida e organização de grupos detentores do poder e, por meio da abrangência dos objetos cotidianos nas exposições, podemos disputar a narrativa em torno dos museus e apresentar as demais particularidades como possíveis de representação. Nesse sentido, tal disputa deve ocorrer a partir das pessoas e comunidades que se relacionam diretamente com os objetos expostos, tendo em vista que são suas memórias e subjetividades que estão ali representadas. Além disso, objetiva-se romper com a hierarquia existente nesses espaços, uma vez que a experiência individual não pode ser totalmente compreendida e compartilhada “sob a luz” de uma narrativa externa ao indivíduo.

Ao falar-se de museus e exposições há, assim como na historiografia, produção de memórias e esquecimentos que resultam das seleções ali feitas. Dessa maneira, pode-se chamar tal produção de “narrativa”, uma vez que a narrativa se dá no discurso que apresenta uma parcela da realidade e cria pontes entre a realidade e o imaginário social.

Assim, como debatido no tópico dedicado aos objetivos da exposição, os museus por anos carregaram na sua estrutura uma narrativa colonial e de dominação, ou seja, contaram as memórias e particularidades sociais tendo um enfoque na classe detentora do poder. Ademais, a contestação desse modelo colonial só passou a ser problematizado quando a “alternativa” se torna importante pro comércio.

Desse modo, tratar de uma alternativa de representação da memória que não esteja voltada para o mercado e que seja construída pelo povo e para o povo é importante para que a descolonização carregue, para além das problematizações culturais, um caráter de representação de classe. Portanto, a narrativa montada pela exposição carrega relações de trabalho e vivência cotidiana que revelam particularidades e experiências que não se concentram na posse fetichizada que o capital impulsiona.

Nesse ínterim, pode-se afirmar que a narrativa carregada pela exposição é descolonial e de classe.

OBJETOS DA EXPOSIÇÃO:

(Foto cedida por Luiza Marilac da Costa, da sua máquina de datilografia)


A máquina de datilografia, pertenceu à professora Maria José Pinto da costa, que também era diretora da escola de datilografia Neudson, registrada pela prefeitura de Fortaleza. O espaço ficava localizado na avenida Visconde de Pelotas N°13, em frente ao mercado dos piões-Fortaleza CE.
Com seu trabalho, dona Maria José foi capaz de criar seus 5 filhos que, com gratidão, honram à mãe pela educação recebida e por terem tido a oportunidade de alcançar a formação acadêmica. Assim, a professora Maria José também contribuiu através de suas aulas para a formação de vários profissionais das mais diversas áreas. 
Infelizmente, nenhum de seus filhos deram continuidade à escola, que teve por fim seu fechamento. Com isso, a cunhada Luiza Marilac da Costa adquiriu a máquina datilográfica (que está sob seus cuidados até os dias atuais), e a mantém como um símbolo de grandes memórias e curiosidades para suas visitas.


(Diploma de um dos filhos de Maria José, formado no curso)

(Maria José, diretora da escola)


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(Cangalha e cambito)

A imagem mostra dois objetos antigos que são utilizados em conjunto, são eles a cangalha e o cambito. São objetos utilizados para auxiliar na vivência de trabalhadores rurais, levando maior facilidade na renda, alimentação, comércio, etc. Esses objetos serviam para carregar coisas, como a maniva, estacas, lenhas, que são coisas usadas no dia a dia dos trabalhadores rurais. Servia como uma maneira mais fácil de realizar as atividades, e como antes não havia caminho, apenas o que é conhecido como varedas, que é um tipo de caminho mais estreito, era mais propício o uso da cangalha e o cambito; uma vez que, não tinha espaço e nem outros meios como mais a frente veio surgir a carroça. Esses objetos eram usados em um animal, geralmente o burro ou jumento. Assim, com esse auxílio, que ajudava muito a mão de obra humana, eram feitos os roçados, para se fazer plantios, as farinhadas, coisas nesse sentido, que estão ligadas com os feitos dos trabalhadores rurais.

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                   (Monóculos da família Veiga)


Em caixas de sapatos, no fundo de gavetas, dentro de baús... Ele cabe em qualquer lugar. O monóculo de fotografia talvez seja um velho conhecido dos seus avós, tios, pais ou pode até mesmo ter feito parte de sua infância. De formato cônico e medindo poucos centímetros, esse objeto nostálgico cabe na palma da mão, mas não se engane: por menor e mais singelo que seja, o monóculo possui valor inestimável para algumas pessoas, principalmente aquelas que viveram em um período onde a fotografia digital era inexistente. A possibilidade de guardar pequenos fragmentos de memória em um objeto acessível de qualquer lugar, tornou-se um “luxo” cobiçado e largamente utilizado, principalmente entre as décadas de 60 a 80. Serviam para registrar viagens, passeios, espetáculos de circo ou mesmo cenas cotidianas, vivenciadas por famílias de todo o país. Os fotogramas eram revelados em cromo numa película semitransparente, que ao serem encaixados numa tampinha branca, permitiam a passagem da luz e assim, era possível enxergar uma pequena fotografia ao posicionar o olho na lente de aumento presente na outra extremidade. Até hoje é possível encontrá-los, mas não com a mesma frequência que no passado. Atualmente costumam ser utilizados como chaveiros e lembrancinhas de festas. Na foto, há dois exemplares de modelo antigo que pertenceram a Francisco José Veiga. Ele residiu boa parte de sua vida em Amanaiara (distrito de Reriutaba-CE), onde trabalhou por anos como agricultor. Ainda bem jovem, viajou para o Rio de Janeiro, onde morou por muito tempo e trabalhou como cozinheiro. Como é possível constatar, a qualidade das fotografias não é das melhores, mas o encanto e simbolismo dos monóculos nunca se perderam e os fizeram ultrapassar várias gerações da família Veiga, que até hoje guarda alguns desses objetos com nostalgia. Meu pai (presente em ambas as fotos) costumava contar muitas histórias sobre sua infância, juventude e sobre a nossa família no geral – apenas por meio dessas histórias, que conheci meus avós e também por meio delas que soube da existência dos monóculos. Esses da imagem ilustram um contexto em que as famosas calças “boca de sino” e os longos cabelos masculinos eram uma febre, como ele mesmo costumava falar. Além dele, minha tia (também já falecida) guardava muitos monóculos de fotos de familiares, que depois passaram a aparecer mais nos álbuns de fotografias até chegar nas imagens digitais. Ainda assim, lembro-me que no tempo áureo da infância chegava a ser mágico ficar diante de tantos monóculos e contemplar com expectativa a imagem escondida dentro de cada um deles. Esse é certamente um dos objetos mais emblemáticos dos quais me lembro ter ouvido falar e considero um privilégio sublime a possibilidade de ver, ainda nos dias de hoje, semblantes e rostos conhecidos (ou não) há tanto tempo congelados e emoldurados para sempre atrás de uma lente, que apesar de minúscula, é carregada de significados. Por fim, e como muito bem enunciou o jornalista e escritor Caio Fernando Abreu, “Como doem as perdas para sempre perdidas, e, portanto, irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos”.

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(Máquina de cortar cabelo)

A máquina de cortar cabelo foi inventada por Nikola Bizumic no século 19, esse é um dos modelos que foram produzidos, tendo como primeiro dono o Sr. Paulo José, ele era bisavó de Maicon. Paulo começou utilizar a máquina no fim da década de 50, tinha bastante apreço pelo objeto, visto que na época boa parte dos barbeiros convencionais utilizavam apenas a tesoura. Paulo morava em Várzea Alegre, vinha de origens humildes, seus pais eram agricultores, foi como barbeiro que ele tirou o sustento de seu lar, trabalhava atendendo todas as classes sociais, costumava ir para zona urbana atrás de novos clientes. Com o passar do tempo mais barbeiros foram aderindo o corte com essa máquina, se tornando algo mais popular, mas ele a utilizou por cerca de 40 anos, parando de usar completamente perto dos anos 2000, pois já era um senhor de idade.

Toda a história que vocês acabaram de ler me foi repassada pelo Sr. Naldo Moreira, que trabalha como barbeiro há 7 anos, sendo essa uma das principais fontes de renda da sua família, ele é o atual dono dessa relíquia, ganhou a máquina do seu cliente Maicon (bisneto de Paulo), o objeto é exposto em um quadro na barbearia “Seu estilo” juntamente com outras peças do pequeno acervo histórico do Sr. Naldo.

Atualmente parece que os produtos dessa geração são feitos para rapidamente serem descartados, normalmente quando algo está velho logo se diz “Joga fora isso, ninguém nem usa mais”, se algum dos parentes do Sr. Paulo tivessem seguido isso, provavelmente essa relíquia teria sido destruída. Não apenas o Naldo gostava de colecionar objetos, como sua mãe Adelaide também, já a filha da mesma não gostava tanto assim desse hábito, então em qualquer oportunidade tentava jogar fora os itens que ela denominava como “velhos”. Dona Adelaide com seu fino humor costumava dizer aos amigos e parentes “Se um dia vocês verem um saco preto grande na calçada, podem correr para abrir, foi minha filha que me jogou fora por estar velha demais”.


(Selfie de Naldo Brito, atual dono da máquina de cortar cabelo.)


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(Canivete do Orlando Mendes.)

Canivete adquirido por Antônio Orlando dos Santos Ramos (44) a pelos menos 25 anos atrás. Objeto que acompanhou parte significativa de sua juventude, enquanto morador da zona rural de Viçosa do Ceará, e trabalhador rural explorado desde os 9 anos de idade pela condição estrutural de pobreza e fome que o sobrecarregou com a responsabilidade de não deixar a mãe e os irmãos morrerem de fome. Sofrimento atenuado através de pequenas coisas, como a própria compra desse canivete, os jogos de futebol aos sábados e a certeza de longas conversas com os amigos enquanto descascava laranjas com a ainda afiada lâmina da faca, a sensação de defesa ao frequentar festas em locais desconhecidos com a certeza de poder zelar pela própria vida com o canivete no bolso, em um espaço social marcado pelo simbolismo da arma branca enquanto instrumento de trabalho e meio que imbuía de certa potência o trabalhador, ainda que a lâmina desse canivete nunca tenha sido manchada com sangue humano. Após o casamento, filho e a mudança de cidade, o canivete ficou esquecido na gaveta de um velho armário até ser encontrado por uma criança de 6 anos que passou os seguintes 7 anos brincando de ninja e levando para a escola como um objeto exótico para impressionar os colegas, virando efetivamente um brinquedo proibido dado a sua letalidade, mas hoje sendo apenas mais uma “burundanga” no meu quarto.

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Trabalho realizado por:

Nataniele dos Reis Gomes

Ícaro Janderson Linhares

Orlando Mendes Ramos

Izabel Jeane Vieira Veiga

Carmen Soraya de Paula dos Santos

Misa Gonçalves da Silva








terça-feira, 15 de novembro de 2022


A exposição casas de farinha, para além de um lugar econômico, um lugar de emoções, vem com a temática de transmitir uma visão da prática da farinhada, um fruto ativo da vida social e cultural passada de geração para geração, além de trazer uma realidade vivida, real e concreta, sem paradigmas, preconceitos e principalmente instigar você, o nosso público, a ter um olhar cultural construído por experiências, sejam suas ou de terceiros, também tentaremos criar uma concepção de como essa prática reflete no meio coletivo. De forma geral, a busca é a valorização cultural das casas de farinha e te trazer e te apresentar essa realidade linda de muitas famílias! Sejam bem vindos!


Nosso principal objetivo é informar e construir um conhecimento de forma didática e apropriada sobre as casas de farinhas para uma maior parte de público, além de tentar satisfazer emocionalmente, e culturalmente um interesse por novas experiências, um olhar critico e sensível por essa prática que formou, sustentou inúmeras gerações até hoje, e que por incrível que pareça é uma pratica quase não valorizada e estudada, mas que contém uma carga emocional e real passada de gerações para gerações. De forma clara, o objetivo protagonista do diante trabalho é a busca da revalorização, cultural e emocional sobre as casas de farinhas e todas as suas vivências.

Queremos transmitir uma nova visão ao público do que essas casas são e os efeitos que as mesmas tem na vida daqueles que fazem parte dessa cultura. O foco que nos move é pelo menos tentar criar uma relação com o público, criar uma “magia” real, sem paradigmas, preconceitos e principalmente que nos façam refletir e detectar dúvidas como: será que essa cultura está tendo o real conhecimento? E será que ela não vem sendo afetada com a passar dos anos ? Vamos usar fotos e entrevistas para vincular efetivamente essas pessoas com a exposição e o reconhecimento dos valores e importância. Tentaremos também criar uma concepção observada de um panorama próximo e individual e não apenas só repassar informações, mas sim, cativar, emocionar e ressaltar que cada indivíduo tem sim sua história pessoal que contribui para um coletivo.


(fotos autorais própria do blog)

(fotos autorais própria do blog)


(fotos autorais própria do blog)

As casas de farinha tem grande importância histórico-cultural, a matéria prima utilizada para fazer a farinhada é a mandioca, onde se transforma em vários alimentos, entre os quais; o beiju, a tapioca, os vários tipos de farofa, pirão, mingau, papa, bolos, sequilhos, entre outros. 

(fotos autorais própria do blog)

(fotos autorais própria do blog)

(fotos autorais própria do blog)

PASSO A PASSO DA FARINHADA: 

O processo da farinhada começa com o plantio da mandioca, depois da colheita é levada para a casa de farinha, onde é descascada é colocada na água para amolecer


Logo em seguida é triturada ou ralada, sendo depois prensada, até tirar todo líquido venoso, e mais adiante, peneirada e torrada, pronto para o consumo. Vale ressaltar que isso não é uma regra, muitas casas de farinha tem o seu próprio modo de produção.

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

(fotos cedidas pelo colunista e influenciador Motinha Mota)

REPRESENTAÇÃO DE FORMA CULTURAL, EMOCIONAL, MONETÁRIA:

Podemos dizer que as casas de farinha representam de forma cultural e emocional a base e a tradição da agricultura familiar de muitas gerações. Podem ser encontradas em diversas regiões e foi e é, um produto essencial do nosso povo é o sustento e a sobrevivência de muitos pais, mães, avós, é uma comunidade em geral. Além de representar uma importância monetária, uma carga totalmente efetiva envolve-se nesse meio, é uma realidade mais presente que imaginamos, são responsáveis pela diminuição de fome em muitos locais brasileiros, gerações foram e são criadas a partir da fabricação das farinhadas. As casas também reforçam os laços de identidade quando se referíamos as populações da zona rural, criando laços de efetividade, instigando raízes e gerações de renda. 

Assista agora, a entrevista com a Dona Maria Sabina da Silva, uma raspadeira desde os 15 anos de idade, pertencente a cidade de Itarema.




O QUE MUDOU NA CULTURA:

Apesar da farinhada resistir ao tempo é total perceptível a diminuição dessa prática, isso acontece porque os mais jovens em sua maioridade não dão continuidade a prática e partem para os grandes centros para a busca de uma vida melhor. Outra questão que também tem contribuído é a diminuição das plantações de mandioca, como diz o senhor Manoel Fontana de Menezes, dono é trabalhador da casa de farinha no distrito de Araquém, Coreaú. Assistam a seguir:



AGRADECIMENTOS:

O desenvolvimento dessa exposição contou com a ajuda de diversas pessoas, dente quais queremos agradecer: Dona Maria Sabina, raspadeira e vô de uma das integrantes do grupo, ao senhor Manoel Fontana de Menezes por abrir a porta da sua casa e nos contar um pouco da farinhada, ao colunista e influenciador Moronha Mota, pelas fotos disponibilizadas, ao professor Francisco Denis Melo, a todos integrantes da equipe e principalmente a todo público por ter chegado até aqui e por ter nos dado a oportunidade de de te fazer conhecer mais dessa cultura tão nobre. Não se esqueça de compartilhar hein

Obrigada!


Trabalho realizado por:
Beatriz Freitas Farias 
Francisca Lara da Silva Oliveira 
Maria Diviane Souza Saturno 
Tailane Paiva Vasconcelos 
Thaisse Livian de Sousa Araujo 
Antonia Rayara de Aguiar Souza










quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A Pedra dos 100 Chutes

Era pra ser só um punhado de cimento e areia parado em meio a praça se não fosse um dia chato de prova e o tédio de dois amigos, que vêem nessa pedra hoje um símbolo de amizade e esperança de que juntos podemos empurrar nossos problemas pra longe, nem que seja na base dos chutes.

 Foram dados 100 chutes e percorridos aproximadamente 1,4 quilômetros.

Por: Levi

 


Fotografia de Minha Infância

A fotografia foi tirada, quando tinha um 1 ano e 6 meses de vida. Foi tirada por meu tio, irmão de minha mãe. 
Ela representa o início da minha trajetória de vida por este mundo. Mas também, representa a recordação da melhor fase da minha vida, que foi a minha infância. 
A fotografia foi tirada ao lado da minha antiga casa, onde morei até os meus quatorze anos. Uma casa simples e humilde, mas que marcou profundamente a minha vida.

Por: Jonas Lira
 

Meu Vestido de Batizado

 Esse é meu vestido de batizado, eu tinha apenas um mês quando usei, foi comprado em 2000 logo quando minha mãe soube  que estava grávida de sua primeira filha mulher. Ele trás uma história incrível de uma mãe solteira que mesmo com críticas e muita dificuldade financeira criou a mim e meus 2 irmãos da melhor maneira possível. Quando eu tinha 8 anos, encontrei esse vestido dentro de uma sacola onde era guardado também outras roupinhas, fiquei  muito feliz porque passou a ser roupa de boneca, coisa que eu não tinha. Sempre  levei escondido para a  casa das amigas e nunca brinquei na minha pois ja sabia que não podia, na brincadeira era usado como vestido de noiva para fazer casamento de boneca. Um dia quando eu não estava em casa, minha prima foi pedir emprestado pra brincar e  nesse trágico dia minha mãe  descobriu, brigou comigo e escondeu de mim "para sempre", até eu encontrar novamente com 17 anos  quando não me tinha mais  aquela utilidade de antes. Minha mãe guardava de cada filho uma roupa e essa é a minha que tem inúmeras memórias da minha infância.

Por: Ana

Dobradora de Metal

Essa dobradora de metal está trabalhando a mais tempo de que eu tenho de vida e sempre estava lá e é terrivelmente pesada e difícil de manusear e todos os funcionários e por mais que fosse difícil ninguém nunca se feriu e quando foi minha vez de aprender eu estava suando frio com medo intenso de ter minha mão esmagada e eu fui o ultimo a aprender a arte de usar essa viradeira de metal atualmente ela está aposentada e fazendo apenas pequenos serviços para se manter na empresa.

Por: Ulíscio Neto
 

Marretinha de Madeira

Desde que nos entendemos por gente, os objetos que carregamos por toda a vida nos ajudam a contar a história de quem somos. Determinados objetos vão muito além do valor material, guardando em se memorias de momentos, de pessoas e de sensações. Essa pequena marretinha feita de madeira estar comigo há 13 anos, a mesmo traz consigo uma história um tanto engraçada, que me desperta muitas lembranças e saudades de minha avó paterna.  Lembro-me de poucas coisas referentes a minha infância, mas esse episódio em especial estar guardado em minha mente e em meu coração. Desde criança sempre tive o hábito de visitar minha avó, ela morava em um sítio e o percurso de minha casa até lá era um tanto distante, em média 40 minutos de caminhada, mas apesar da distância era o meu passeio semanal sagrado. Recordo-me que os melhores momentos de minha infância vivenciei nesse sítio, era um lugar calmo, silencioso que trazia uma paz inexplicável. Sempre que ia visitá-la algo na casa me intrigava, a última gaveta da cômoda da sala do meio, a mesma sempre estava fechada de cadeado e aquilo me despertou uma grande curiosidade, até que um dia tive a oportunidade, e no meu ápice de curiosidade revirei a casa toda e finalmente encontrei a chave da bendita gaveta, quando abri fiquei encantada com o que vi, inúmeros objetos feitos de madeira, carrinhos, bonecos, pião, mas um em especial chamou minha atenção, a marretinha. Todos esses objetos eram feitos pelo meu primo, minha avó ficou tão admirada quanto eu com os objetos contidos naquela gaveta, era explicito o quanto eu queria aquela marretinha em especial. Então fizemos um trato, ela disse que me daria, mas com uma condição de nunca dizer como e quem tinha me dado a bendita marretinha, e assim aconteceu, trouxe o objeto pra casa e escondi na minha gaveta. Até tempos atrás meu primo nem desconfiava quem tinha pego. Os anos se passaram e agora ele é meu vizinho, e um dia ironicamente, assim como eu mexendo em minha gaveta ele descobriu que quem pegou a marretinha foi eu. Essa marretinha rendeu muitas outras histórias, e até hoje guardo  no meu porta joias na gaveta de minha cômoda com todo amor e carinho do mundo, esse pequeno objeto é de grande importância e me traz um misto de sensações e saudades de minha infância e principalmente de minha avó.

Por: Gabriele Marques